quarta-feira, 6 de julho de 2016

Um Rio mais lindo e mais humano



Terceiro grande BRT do Rio, Transolímpica atravessa 11 bairros a facilita acesso a competição esportiva
Novo corredor possui 25 km, dos quais 13 km serão de vias expressas. Obra teve custo de R$ 2,2 bilhões
Por Alexandre Raith
Edição 60 - Julho/2016









Uma das principais obras de mobilidade já realizadas no Rio de Janeiro, o BRT Transolímpica abrirá novas alternativas de deslocamento em uma cidade que cresceu de forma desordenada e ao redor de morros que agem como barreiras naturais. O novo corredor tem 25 km de extensão, sendo 13 km de vias expressas, e avança por 11 bairros, conectando o Recreio dos Bandeirantes (zona Oeste) a Deodoro (zona Norte).
Além de reestruturar permanentemente as vias cariocas, o novo BRT (Transporte Rápido por Ônibus, na sigla em português) foi pensado para auxiliar a fluidez de visitantes e comitivas ligados aos Jogos Olímpicos. Assim, a via dá acesso à Vila dos Atletas, ao Parque Olímpico, ao Parque Radical e ao Centro de Hipismo e Tiro.

BRT Transolímpica tem 25 km, sendo 13 km de vias expressas, com duas faixas para carros e uma faixa exclusiva para ônibus articulados

Este é o terceiro BRT entregue no Rio como parte do plano de reestruturação da mobilidade urbana impulsionado pela Copa do Mundo e pela Olimpíada. Os outros dois - Transoeste e Transcarioca - foram inaugurados em 2012 e 2014, respectivamente, com extensões bem maiores.

A Transolímpica recebeu um investimento total de R$ 2,2 bilhões. O consórcio ViaRio, formado pelas empresas Invepar, Odebrecht TransPort e CCR, venceu a licitação realizada pela prefeitura para implantação e operação por 35 anos.

A obra começou em julho de 2012 e, até o fechamento desta edição, no início de junho, estava com 95% de conclusão e estimativa de inauguração no fim do mesmo mês. Ao todo, o BRT contará com três terminais e 18 estações.

Nem toda essa estrutura, porém, estará funcionando até agosto, durante a Olimpíada. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes, as operações nesse período se limitarão a apenas dois terminais (Recreio e Centro Olímpico) e a cinco estações (Olof Palme, RioCentro, Marechal Fontenelle, Magalhães Bastos e Vila Militar). Após os Jogos, quando a Transolímpica estiver em operação plena, todas as estações entrarão em funcionamento, informou a secretaria.

Neste primeiro momento, a abertura das pistas já será suficiente para gerar um efeito perceptível para quem atravessa a região. A estimativa é que o novo traçado reduza em cerca de 60% o tempo de viagem diária de 70 mil passageiros dos ônibus articulados e 55 mil motoristas que trafegam entre Recreio e Deodoro. Em cada sentido, há duas faixas para carros e uma faixa exclusiva para ônibus.


Integração
Além do acesso a centros esportivos onde serão realizadas as competições, o BRT facilitará o acesso às arenas localizadas nos bairros de Copacabana e Maracanã por meio de conexões com as linhas de metrô e trem.

Os usuários da Transolímpica poderão fazer a integração com o BRT Transcarioca, em Curicica, e Transoeste, no Recreio. Outros pontos importantes de conexão são os trens da SuperVia, em Magalhães Bastos, Vila Militar e Deodoro; e a linha 4 do metrô, via transferência pela Transoeste.

A malha permitirá também a integração com o BRT Transbrasil, previsto para ser entregue em 2017. Quando finalizadas, as quatro linhas de BRTs irão formar um anel viário de 155 km ao redor da cidade, atendendo a uma demanda antiga para reforçar a infraestrutura viária do Rio de Janeiro.

"Além de indispensáveis à realização dos Jogos Olímpicos, os projetos proporcionaram melhorias que promoveram um inegável ganho de qualidade de vida e ordenamento urbano. Este é o verdadeiro legado. A malha viária da cidade está se readequando", afirma Alexandre Pinto, secretário municipal de obras do Rio.

Engenharia
O BRT Transolímpica foi construído com avenidas de ligação em vias expressas urbanas. Para isso, foram realizadas as etapas de drenagem, contenção, terraplanagem, pavimentação e acabamento. Ao todo, estão sendo construídas 41 novas obras de arte especiais, entre viadutos, pontes e elevados.

Dentre as intervenções de maior porte está a duplicação da avenida Salvador Allende e a abertura de passagens pelo Maciço da Pedra Branca, com a construção de dois túneis com quatro emboques. O caminho será uma alternativa viária à Estrada do Catonho, que faz uma ligação bastante congestionada entre os bairros da zona Oeste atualmente.
O túnel situado na Serra do Engelho Velho tem duas galerias, duplo sentido e se estende por 1,3 km. Já o túnel localizado na Estrada da Boiúna possui duas galerias de 200 m cada.

"O volume de escavação com a perfuração para a abertura dos dois túneis foi de 350 mil m3 de rocha. Utilizamos sismógrafos dentro e fora dos túneis, além das casas mais próximas", explica Severino Garrido Júnior, gerente de engenharia da concessionária ViaRio.

Traçado passa por 11 bairros, ligando o Recreio dos Bandeirantes a Deodoro
Segundo o engenheiro, a equipe monitorava cada avanço da escavação para medir a velocidade do deslocamento das partículas e mapear o impacto no entorno. "Nas obras dos túneis, foi feito um acompanhamento com laser scan, que mapeava em três dimensões o processo completo de escavação e detonação. Também medimos constantemente a velocidade do deslocamento do ar e do ruído", conta Garrido Júnior.
Já os viadutos e pontes foram executados em concreto, com trabalho de mesoestrutura, pilares, vigas e concreto protendido, além de tabuleiros com vigas de concreto protendido e lajes pré-fabricadas. Há apenas uma estrutura mista, próxima da avenida Brasil, devido ao grande vão em curva. As fundações são em microestacas escavadas e tubulões de ar comprimido.

O impacto da construção do BRT Transolímpica nas ruas e avenidas que circundam a obra também teve de ser controlado pelo consórcio. Garrido Júnior afirma que, para minimizar as interceptações, o trabalho em viadutos e pontes foi realizado em modelos pré- fabricados transportados em carretas menores. Em função do limite do espaço urbano, houve também a troca do aterro por estrutura de terra armada, minimizando o número de desapropriações.

O engenheiro destaca o planejamento do traçado como o principal desafio da obra, já que o objetivo era o de minimizar o impacto em avenidas, residências e no meio ambiente. "No Parque da Pedra Branca, estudamos e encontramos um caminho alternativo, de menor impacto ambiental. Tivemos controle de ruído monitorado em nove pontos, gerenciamento de efluentes, resgate de fauna, educação ambiental e monitoramento arqueológico", relata.

Fluxo contínuo
Por ser um sistema de transporte que utiliza ônibus articulados transitando por faixas exclusivas e vias sem semáforos, o BRT garante um ininterrupto fluxo de trânsito. As paradas acontecem apenas nas estações e terminais fechados, que substituem os pontos de ônibus e contam com catracas de validação de cartão, o que aumenta a agilidade do embarque e desembarque, que pode ser feito por qualquer porta do veículo articulado.

 
Abertura dos túneis na Serra do Engelho Velho e Estrada da Boiúna demandaram a perfuração de 350 mil m³ de rocha. Projeto envolveu construção de 41 obras de artes especiais   
O pagamento da passagem em linhas de BRTs é realizado por cartões Rio Card e Bilhete Único (RJ e Carioca). Durante o período de competições esportivas, todos os modais de transporte local poderão ser acessados pelo Cartão Olímpico, criado pela Prefeitura do Rio para facilitar a locomoção tanto dos moradores quanto dos turistas - estes devem representar 53% do total de espectadores.

Estações e terminais

As 18 estações do corredor expresso da Transolímpica estão, em média, a 500 m de distância entre si. Já a localização dos três terminais foi definida para facilitar as viagens multimodais, com a integração com outras linhas de BRT, metrô e trem e de ônibus alimentadores.
Segundo o gerente de Vias Especiais da Secretaria Municipal de Obras do Rio de Janeiro, Eduardo Fagundes, o projeto dos equipamentos privilegiou a rapidez no embarque e no desembarque dos passageiros. Por isso, as estações contam com plataformas niveladas com o piso dos veículos.
"As estações de BRT foram concebidas seguindo um modelo sustentável e econômico. Na estação, é usada estrutura metálica, com brise e telhas. Os terminais têm estrutura similar, mas inclui plataformas com base em concreto para a circulação de pessoas", afirma Fagundes. "Este sistema facilita a execução, e a estrutura metálica é adequada para vãos maiores, necessário para acomodar ainda mais pessoas."
Nesse modelo, o projeto priorizou a ventilação natural dentro das estações, com cobertura longa e captadores eólicos, que estão sempre virados para o sudoeste. Todos os 18 pontos de embarque e desembarque são padronizados e compostos por material metálico e telas completamente vazadas, que também auxiliam na livre passagem de ar.

Perspectiva do Terminal Olímpico. Projeto prioriza a ventilação e a iluminação natural, além de moldes arrojados, que imitam uma árvore



Outras características do projeto mantêm o conforto aos passageiros. Fagundes explica que o Terminal Olímpico, por exemplo, localizado na Barra da Tijuca, é moderno, amplo e metalizado, e se assemelha a um grande bosque. "Os arbustos, formados por troncos de metal, material escolhido para racionalizar a obra, contam com copas que se encontram para formar uma grande cobertura, capaz de promover a sombra necessária ao espaço de 5 mil m²", conta o gerente.

Com o intuito de produzir a sensação de amplitude, o Terminal Olímpico tem poucos pilares e ganhou iluminação cênica totalmente em led, de baixo para cima, com spots na base dos postes de metal. Já o Terminal do Recreio funciona como local de conexão entre as linhas Transolímpica, Transcarioca e Transoeste. Em uma área total de 22,6 mil m2, estão distribuídas oito baias e 15 vagas para estacionamento de ônibus BR T e outros oito abrigos e oito lugares para veículos alimentadores, além de uma travessia subterrânea.

O Terminal do Recreio está localizado no trecho Viário do Parque Olímpico, que beneficia a região do entorno, na Barra da Tijuca. O BRT Transolímpica ainda conta com o Terminal Sulacap, que serve de ponto de integração com os ônibus alimentadores.

A era dos BRTs
O Transolímpica é o terceiro grande BRT (Transporte Rápido por Ônibus, na sigla em português) entregue no Rio de Janeiro, em meio ao plano de reestruturação da mobilidade urbana, impulsionado pela Copa do Mundo e Olimpíada.

Inaugurado em 2012, o Transoeste foi o primeiro corredor expresso em operação na cidade. Esta linha é utilizada por quase 200 mil pessoas e faz conexão com os BRTs Transcarioca e Transolímpica, além de estações de metrô e trem. A ligação entre o Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, e os bairros de Santa Cruz e Campo Grande tem 58 km de extensão, 62 estações e três terminais.

Já a Transcarioca, entregue em 2014 para Copa do Mundo, liga o Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador. O trajeto passa por 27 bairros e tem 39 km de extensão, por onde passam por dia mais de 300 mil passageiros, que embarcam e desembarcam em 47 estações e cinco terminais. A linha tem ligação com o BRT Transolímpica, no Terminal Centro Olímpico, em Curicica, e o metrô.

Parte das obras viárias construída para os Jogos Olímpicos, a Transolímpica liga os bairros Recreio dos Bandeirantes e Deodoro , na zona Oeste. São 18 estações e três terminais ao longo de 25 km de extensão, sendo metade do trajeto de via expressa. Está prevista a circulação de 70 mil pessoas por dia.

O último grande BRT será o Transbrasil, com entrega prevista em 2017. Sua construção está sendo feita ao longo das avenidas Brasil, Presidente Vargas e Francisco Bicalho, servindo como via de ligação entre as zonas Oeste, Norte e Centro da cidade. O corredor terá 28 km, sete terminais, 20 estações e 17 passarelas, além de cinco novos viadutos. Cerca de 800 mil passageiros devem utilizar a futura linha, que terá conexão com os BRTs Transcarioca e Transolímpica e integração com o metrô e o trem.

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