Saneamento
Tecnologia
Conheça
os parâmetros de projeto, execução, operação e manutenção dos piscinões
Tipo de reservatório de controle de cheias
interfere nos custos de implementação e os referentes a cuidados durante o
funcionamento
PINI INFRAESTRUTURA
Por
Gisele Cichinelli
Edição
55 - Fevereiro/2016
AdiReservatórios abertos têm menor custo de implementação e podem ser limpos com mais facilidade do que os reservatórios fechadoscionar legenda |
Os reservatórios para controle de
cheias, conhecidos como piscinões, são estruturas usadas para deter ou reter o
volume de águas pluviais, amortecendo os picos de enchentes em áreas urbanas.
"Essas estruturas se tornam fundamentais para reorganizar os escoamentos e
mitigar os efeitos das inundações em sistemas de drenagem", explica
Marcelo Gomes Miguez, professor-associado da Escola Politécnica e Programa de
Engenharia Civil/Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na etapa de dimensionamento dos piscinões,
é preciso analisar se eles serão implantados de modo corretivo, como reforço de
capacidade de vazão de sistemas de drenagem, ou de modo preventivo. "Isso
irá determinar o volume e a capacidade de vazão do reservatório", explica
Aluísio Canholi, diretor da Hidrostudio Engenharia e coordenador de diversos
planos de drenagem no Estado de São Paulo.
A principal variável a ser
definida no projeto hidráulico de piscinões, segundo ele, é o seu volume de
armazenamento. "Esta definição depende da magnitude dos déficits de
capacidade hidráulica verificada a jusante que se pretende reduzir com a adoção
do reservatório. Ou seja, a capacidade máxima de vazão suportável pelos canais
e/ ou galerias existentes a jusante impõem a vazão máxima efluente do reservatório."
Cabe ao projetista dimensionar a
estrutura do piscinão e, considerando a área disponível, topografia e condições
para realização de desapropriações ou escavações profundas no local, definir
como será sua implantação, se o reservatório será enterrado ou a céu aberto ou
se ele será do tipo online ou offline (veja o boxe).
"Nos locais onde os terrenos
são caros e os espaços, raros, o ideal é fazer estruturas de concreto a partir
de escavações profundas. Em cidades muito adensadas, como Rio de Janeiro e São
Paulo, os piscinões podem ser construídos em praças, mas, nesses casos, têm de
ser fechados", explica Canholi.
Estrutura
A escolha construtiva dos reservatórios deve levar em conta o impacto ao local e à vizinhança, leis ambientais e a viabilidade econômica de cada projeto.
A escolha construtiva dos reservatórios deve levar em conta o impacto ao local e à vizinhança, leis ambientais e a viabilidade econômica de cada projeto.
Os piscinões abertos podem ser
implantados, na sua forma mais simples, como uma obra de terraplenagem, com
escavação e posterior revestimento dos taludes. A variação rápida dos níveis de
água no interior do reservatório deve ser considerada nas análises de
estabilidade dos taludes. "Normalmente resultam taludes suaves, e, de
acordo com as características locais, podem ser revestidos com grama nos
trechos de menor frequência de inundação e com concreto/gabião argamassado ou
mesmo enrocamento nos trechos inferiores", diz Canholi.
Esses piscinões permitem a
integração com a paisagem urbana, além de serem mais fáceis de manter.
"Por outro lado, exigem um plano de manutenção rigoroso, com respostas
imediatas pós-inundação já que a população pode ter contato com áreas sujas
quando localizados em áreas públicas de lazer", diz Miguez.
Outra vantagem deles é a
possibilidade de fazer uso da gravidade como motor para as descargas, evitando
o uso de bombas, o que simplifica a operação e diminui os custos de
implantação. Vale salientar, entretanto, que essa alternativa mantém os
reservatórios superficiais mais rasos, portanto, com menor capacidade.
Já os reservatórios fechados são
construídos em concreto armado, com fundações, pilares de sustentação e uma
laje superior capaz de receber a carga da urbanização sobre o piscinão. Não têm
conexão com a paisagem urbana, mas podem ter grandes volumes, e quase sempre
contam com sistemas de bombeamento.
Além de mais difíceis de manter
(já que o acesso a profundidades maiores e a necessidade de movimentar os
resíduos que se acumulam no local por alturas maiores dificultam a limpeza),
apresentam custos de implantação e operação maiores. "Entretanto, o ciclo
de manutenção pode ser mais espaçado do que os dos reservatórios abertos, uma
vez que esse tipo de estrutura limita o contato direto do público",
completa Miguez.
As obras de piscinões fechados
exigem a construção de lajes, apoiadas em pilares que chegam até o fundo do
reservatório. Portanto são mais caras, podendo chegar, segundo o engenheiro
civil e consultor em saneamento Plínio Tomaz, a custar em média US$ 72/m³,
enquanto os abertos, em média, US$ 34/m³.
Manutenção
De acordo com especialistas, as etapas de operação e manutenção dos piscinões são custosas. Tomaz lembra que podem chegar a aproximadamente 10% do custo total da obra e incluem investimentos em iluminação local, prevenção contra infestação de ratos, segurança, limpeza periódica para remoção e destinação de detritos para aterros sanitários e custo com energia elétrica.
De acordo com especialistas, as etapas de operação e manutenção dos piscinões são custosas. Tomaz lembra que podem chegar a aproximadamente 10% do custo total da obra e incluem investimentos em iluminação local, prevenção contra infestação de ratos, segurança, limpeza periódica para remoção e destinação de detritos para aterros sanitários e custo com energia elétrica.
Vale lembrar que os piscinões
devem permanecer vazios nos períodos secos e o seu volume para o amortecimento
das vazões afluentes. No entanto, eventos sucessivos de chuvas podem impedir o
esvaziamento total dos reservatórios. Outro possível problema é a presença de
resíduos sólidos e lixo, obstruindo a entrada de vazões. "Se o problema
estiver associado ao dispositivo de descarga, com entupimento do orifício de
fundo ou falha da bomba, o reservatório pode também falhar antes do
previsto", diz Miguez.
Para garantir o bom desempenho
dos piscinões, é imprescindível elaborar um plano de manutenção, que deverá
impor, desde a fase de projeto, as estruturas e dispositivos necessários para a
sua inspeção e limpeza periódicas. Isso envolve a previsão de acessos para os
equipamentos de limpeza ao fundo do reservatório (caminhões e escavadeira),
sistema de drenagem superficial e subsuperficial acessíveis para limpeza e
grades na região das comportas e bombas existentes.
Segundo Canholi, o ideal é
executar um revestimento de fundo nos reservatórios para permitir o acesso
adequado aos caminhões e máquinas de limpeza sobre o substrato. "Se o solo
for resistente por si só, esse cuidado pode até ser dispensado. Mas a execução
dessa estrutura, normalmente uma laje de concreto drenada, eventualmente
construída com concreto rolado (CCR), apoiada em leito de brita, facilita a
operação."
O engenheiro diz que é importante
que as inspeções sejam feitas após cada período de cheia, já com a definição
das medidas indicadas para correções, que deverão ser feitas antes do próximo
período chuvoso. "Um piscinão sem cuidados tem um impacto muito negativo
no entorno e na população vizinha, podendo inclusive se tornar um local
perigoso."
Operação e finalidade
Os piscinões, com relação a sua forma de operação, podem ser classificados como online ou offline. No primeiro caso, o fundo do reservatório coincide com o talvegue do córrego, o que impõe a operação de esvaziamento do reservatório por gravidade. Na operação offline, o fundo do reservatório normalmente situa-se em cota inferior ao fundo do córrego/drenagem ao qual está conectado, necessitando de bombeamento para a restituição das águas armazenadas ao córrego.
Quanto a suas finalidades podem
também ser designados como de detenção ou retenção. No primeiro caso, a sua
função é amortecer os picos das vazões afluentes. "Na retenção, o
reservatório dispõe de dispositivos ou esquema operacional, que podem prolongar
o tempo de residência dos volumes armazenados, favorecendo os processos de
sedimentação e decantação dos sedimentos na água", diz Aloizio Canholi.
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